quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Feliz Ano

A todos os meus Amigos

Reais

Virtuais

Potenciais

 
Feliz Ano

A toda a humanidade

E outra viva entidade

Aos seres cósmicos e terrestres

Aos aprendizes e aos mestres

Aos fazedores de arte

E aos outros de quem faz parte

 

Feliz Ano

A todos os que também

Vão mais longe que aquém

Sabem que o amor

Não é ausência de dor

E nunca esquecem que a amizade

É feita de carinho e verdade

E que está cientificamente provado

Apesar de breve
Tudo é ilimitado

             ...

 

Paula Sá Carvalho

quinta-feira, 3 de novembro de 2016




Momentos

 

Deixa-me embalar o corpo

Nas vagas do momento

Quebrar o silêncio do morto

No espaço guerreiro do tempo

 

As luzes da cidade são luas

Nas fases várias da inquietude

Não são minhas nem são tuas

São só ocaso de solicitude

 

E nós, num desassossegado vaivém

Só reparámos nas pétalas das horas

Do malmequer que também não tem

 

Certezas do caminho que demoras

A usufruir o sorriso do efémero

Único sol num céu de Inverno

 

Paula Sá Carvalho, Novembro 2016

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Outono
 
A luz respira suavemente
Por entre os ramos
Que no silêncio
Se vão despindo
Sem pressas

Há uma brisa morna
Que se dispersa nos dias
Cada vez mais breves
As borboletas ainda esvoaçam
Junto às flores violetas
Suspensas por um instante no meu olhar
E eu
Já só aguardo
A leveza das folhas
Caindo                      
A colorir o chão
Arrefecido
 
Paula Sá Carvalho, Setembro 2016

quinta-feira, 25 de agosto de 2016



Verão
 
De todos os amanhãs
Só o hoje me interessa
Este momento fugaz
Que transforma a luz
Em calor
E o beber uma chávena de café
Em puro “bonheur”


Paula Sá Carvalho, Agosto de 2016


 

segunda-feira, 11 de julho de 2016


Aos egrégios avós


Estava escrito nas estrelas
O teu esplendor
A tua chama
Vinda directa e intensamente
Da tua alma Lusitana!


Paula Sá Carvalho, 10/07/2016

terça-feira, 21 de junho de 2016


Calendários

 

Escrevo dor

Como quem

Se estende

Nas Primaveras

Ou Verões

Soalheiros

A bronzear

Os reumáticos

Da existência

...

 

 

Paula Sá Carvalho, Junho de 2016

terça-feira, 12 de abril de 2016

Eu tiro a máscara

Enlaça no meu olhar
Um tempo não impertinente
Olha-me como uma primeira vez
Como se o cansaço de ser
Fosse uma ponte para outra margem

Enlaça-me
É tão longo o caminho
Sem o ritmo dos teus passos

Paula Sá Carvalho, Abril 2016

terça-feira, 5 de abril de 2016


Eu tiro o boné

 

Afaga o meu cabelo

Com o toque lunar

Da tua mão

E mesmo se não tenho cabelo

Ele vai alisar-se amorosamente à tua carícia

 

Afaga-me

São tão eternas as noites

Que sonambulo sem ti

 

Paula Sá Carvalho, Abril 2016

quinta-feira, 3 de março de 2016


Dias sombrios e um calendário

 

 

Observo o rendilhado do tempo

A teclar manhãs de domingo

 

Imagino a brisa gelada

Soprada nos ramos nus

Da ameixeira resignada

 

E anseio a postura das árvores

 

- Diz que não dói, diz que não dói

 

 

Filha da puta! Vou-te ensinar a dobrar a espinha...!

 

Estas e outras pérolas oiço frequentemente quando passo no corredor do 1° andar. Um destes dias subia as escadas e cruzei-me com a vizinha do 1° frente. Apesar de a luz não ser famosa deu para reparar que tinha um olho negro e outro roxo, um traço de boca e um olhar fugidio. Perguntei-lhe pelas crianças e, de seguida, no mesmo tom de voz quase casual, perguntei-lhe como estava, se estava bem. Ela disse que sim...

 

Depois de a cruzar veio-me à lembrança uma estória de camisas mal passadas a ferro e arrepio-me (detesto passar a ferro).

 

Este inverno é duro, frio, cinzento e implacável.

 

É uma estória à moda antiga, o fulano saia de manhã para o trabalho não sem antes escrever numa lista todas as tarefas que a mulher tinha de fazer durante o dia. Para além das obrigações ainda tinha uma página de recomendações. Por exemplo: fazer sopa de feijão com couve e ele especificava que tipo de feijão; branco, encarnado... E que tipo de couve; lombarda, penca... Fazer as compras de fruta e legumes na mercearia do Sr. Tal e só comprar carne no talho do Sr. Fulano. Nunca ir ao café da rua, por motivo algum, se quisesse beber café que bebesse em casa. Não usar calças, não pintar os olhos e nada de roupas justas e decotes inconvenientes nas blusas e nos vestidos.

 

Há pessoas que não precisam de reflectir, há sempre alguém que lhes diz o que é ou não é inconveniente...

 

Estás a desviar-me do assunto das camisas.

Pois o fulano quando chegava a casa ia inspeccionar tudo o que tinha indicado como tarefa diária e todos os dias encontrava defeitos, a sopa estava salgada (ou insonsa), sanita com ela, as camisas tinham vincos, tanque com elas (naquele tempo não havia máquinas de lavar roupa como hoje), o móvel da sala tinha pó ou os bibelots estavam mal limpos toca a limpar à frente dele para o controle de qualidade...

 

A roupa ia quase toda novamente para o tanque (que ele mesmo enchia de água e punha a quantidade de detergente que entendia). Ficava depois a observá-la a lavar e a ficar com os dedos vermelhos de esfregar na tábua, as peles depois a soltarem-se quando as mãos secavam. Achas que já estão lavadas? Perguntava ela nos intervalos das passagens pela tábua de esfregar. Ele dizia sempre que sim, o problema não era estarem sujas era estarem mal engomadas. O fulano tinha a teoria que a roupa para ser engomada tinha de estar lavada de fresco senão o ferro amarelecia-a...

 

Nas noites em que o jantar ia parar à sanita lá ia ele jantar à tasca do bairro. A mulher não precisava de jantar, bastava-lhe uma carcaça com queijo e uma maçã. Nunca se ouviu um queixume da boca daquela mulher.

 

Como é que souberam do caso, pelas vizinhas? Desta vez nem tanto, ao que parece ele abria a goela na tasca para se gabar da mulher bem amochada que tinha em casa. Contava todos os pormenores, até os mais sórdidos, de como a fazia gostar de sexo, de como ela o satisfazia (gabava-se de não precisar de ir às putas para esvaziar bem os ditos). Dizia, orgulhoso e cheio de mérito; Em casa tenho uma gueixa melhor que as chinesas!

 

O tipo precisa que lhe ofereçam um mapa do mundo com ilustrações!

 

Hoje, quando regressei à tardinha, encontrei a vizinha do 1° andar a chorar colada à porta de casa. O marido tinha-a posto fora do apartamento e ficou lá dentro com os filhos. Já era a hora do bebé mamar. As manchas na blusa dela começaram a aumentar com a intensidade do choro do filho. Emprestei-lhe o meu casaco de malha para se tapar, se quisesse. Reparei que o olho roxo começava a clarear e o olho negro a ficar roxo. Atrás da porta o choro do bebé cada vez mais aflitivo.

 

Quando lhe passei o casaco ofereci-lhe ajuda para o que fosse preciso, mas ela não aceitou; Está tudo bem não se preocupe, é só um arrufo de casados. Sabe como é... Não, não sei (felizmente!), claro que não tive coragem de lho dizer nem de a deixar sozinha a ouvir a fome do seu bebé ecoando nas escadas.

 

Apareceram mais vizinhas e a do r/c esquerdo não foi de modas começou a tocar insistentemente à campainha. Como o fulano não abria pôs-se aos murros à porta. O fulano continuou a não abrir e ela gritou mais alto que a fome do bebé; Ou abre já esta maldita porta ou vem a polícia abri-la!! Parece que a polícia ainda surte algum efeito, deve ser da ladainha que nos impingiam quando éramos crianças; "portas-te mal vem o polícia e leva-te"!

 

Enquanto a ameaça não surtiu o efeito esperado a do r/c, possessa, voltou-se para a pobre mãe e não se conteve; Está à espera de quê, que a mate? Que mate os seus filhos? Não tem olhos na cara para ver que este gajo é uma peste só serve para lhe gastar a juventude e a alegria? Que a usa como se fosse escrava em carga de negreiros? Abra os olhos, irra!!

 

A coitada ouviu, baixou o olhar, balbuciou desculpas esfarrapadas; Ele é assim só quando não dorme. Os filhos fazem muito barulho... O meu marido também sabe ser muito meigo, quando está calmo mima-nos tanto, traz chocolates para as crianças e para mim flores, oferece-me sempre rosas brancas... Rosas de um branco imaculado! Deve ser para contrastar com as "negras" que lhe planta pelo corpinho todo ao enfiar o mastro a toda a hora e de qualquer maneira! Rosnou a do r/c.

 

E depois? Não sei... Como não sabes, ela foi para casa ou não? Sim, isso sim, mas depois não sei... Amanhã ou outro dia já veremos quantas nódoas negras ele lhe acrescentou.

 

Hoje de manhã esbarrei com o vizinho do 3°Dto., aquele que anda com canadianas, parece que caiu nas escadas e partiu o pé. Coitado, estava com um ar tão desmazelado, roupa amarrotada, cabelo sujo e um cheiro... Cheirava a tabaco suado e a fritos, a mofo de velho. Ele ainda não é velho, deve ter para ai 50.

 

Pensava que era casado. Já foi, a mulher pirou-se com o médico de família.

?

 

Pois, parece que o médico foi colocado num hospital no centro do País e ela nem hesitou e foi com ele, ou atrás dele, as versões variam conforme as vizinhas... Então está explicado o ar desmazelado e o olhar de cão acossado que ele tem. Apesar do mau cheiro ofereci-lhe ajuda. Olhou-me agradecido mas que não, não era necessário preocupar-me que estava a dar conta do recado e já tinha tudo organizado para lhe trazerem as compras e os remédios.

 

O homem é mais pequeno que o seu desgosto.

 

Deixou o trabalho, os amigos e todos os afazeres e actividades. Passa os dias enfiado no apartamento a chorar e a ouvir fados tristes. A vizinha do piso dele é que conta, acrescentado sempre; Idiota! Tão maltratado pela mulher e em vez de respirar de alívio chora por ela! Parece que a tipa gritava com ele desalmadamente e lhe chamava todos os nomes do vocabulário ordinário. Humilhava-o mesmo à frente de outras pessoas e ele, sempre cabisbaixo e pronto a perdoar todos os excessos e a amá-la mais, cada vez mais.

 

Já era da praxe, depois de uma discussão (nunca provocada nem alimentada por ele), lá vinham os miminhos; rosas vermelhas ou tulipas negras, quando não lenços de seda coloridos, perfumes...Por alguns minutos a fulana arrecadava as unhas e a língua e falava-lhe calmamente. Era o tempo de cheirar as flores, de as colocar numa jarra com água, de abrir a caixa do perfume e de vaporizar umas gotas nos pulsos, atrás da orelha. Momentos breves, pausas que duravam pouco e lá recomeçava a gritaria, as ameaças, os desaforos. A fulana ao que parece tinha uma espécie de acusação fetiche que lhe saia sem tempero em qualquer sítio; Nem para foder serves!

 

Essa é forte.

 

Pois é...



Paula Sá Carvalho, Março de 2016

sábado, 13 de fevereiro de 2016

inspiração do momento...

Valentine

Coração desencantado
Respira fundo
E abre janelas
Deixa entrar o murmúrio do vento
O sussurro do dia acordado
Deixa fluir a nitidez do momento
E não chores as horas do passado

Coração desencontrado
Abre um sorriso
E encosta a porta
Não impeças o florir de estações apagadas
Nem a alegria de ser mãos e pés
Mesmo em caminhos de pernas cansadas
Nunca pares nunca olhes de revés

Paula Sá Carvalho, Fevereiro de 2016

sábado, 16 de janeiro de 2016

Inverno

É branca a minha mágoa
De invernos arrefecida
Sempre à espera de primaveras de vida
De chilreios e de Sol


É branca a minha mágoa
Da mesma cor das colheitas adiadas
À espera que o calor e a luz
Fertilizem o frio e as madrugadas

Paula Sá Carvalho, Janeiro de 2016