sexta-feira, 27 de maio de 2022

 










O Farwest e a eternidade da desumanidade


Tomaste o pequeno almoço

Tão lentamente...

No entretanto

Observaste as árvores floridas


Com um sorriso

Ouvi-te dizer num murmúrio

Está ali uma cotovia

Ou será um melro?

É uma cotovia

Disse eu

Sem sequer olhar

Como é que sabes?

Pelo seu cantar

...

Agora deixaste de ser minha

E passaste a ser notícia de jornal


Ah se eu tivesse uma arma colossal

Juntaria todos aqueles

Que se armam até aos dentes

De crueldade

E também aqueles que olham de soslaio

Todos os que são danos colaterais

Da sua imensa maldade

E enviá-los-ia para Hades

O reino dos mortíferos tiros ao alvo

Tiro

Cai

Levanta

Tiro 

Cai

Levanta

Tiro

Cai 

Levanta

...

Até à eternidade


Paula Sá Carvalho, 24 de Maio de 2022

terça-feira, 17 de maio de 2022



 















Antes de entardecer

Antes de entardecer
Esteve um dia magnífico
De luz e cor
A passear-se nos ramos

Os risos das crianças
A ecoarem no azul dos pássaros
Esvoaçantes
Na quietude do momento

Antes de entardecer
Soaram alarmes
Caíram mísseis
Que balearam soldados
E todos os outros
Que respiram um quotidiano de horrores

Mulheres e meninas
Foram estupradas
Homens e meninos
Foram estuprados
Em quantos continentes
?

Antes de entardecer
Esqueci-me da fase da lua
Será que está grávida de noite
Ou adornada de silêncios
?

Será que o rei vai nu
Ou é a humanidade
Que vai nua
?

Paula Sá Carvalho, Maio 2022

foto da minha autoria