Porque todos os dias são dias daqueles que habitam o nosso coração
A casa dos Avós
No tempo em que
eu era uma menina
Que não gostava
de chorar
Havia férias de 3
meses
Na casa dos avós
Sestas contrariadas
E poeira
Muita poeira
A esvoaçar nas
rodas
Da minha
bicicleta
Havia reuniões de
família
Ressentidas de mágoas
Ressentidas de mágoas
Daqueles que não
tinham avós
Risos da altura
das crianças
E medos nocturnos
escurecidos
Nos silêncios
cantados pelas corujas
Havia galinhas na
capoeira
E um gato amarelo
Exímio caçador de
ratos sempre cinzentos
Havia hortênsias
nos canteiros
E rosas muitas
rosas multicoloridas
Céu azulíssimo
Recortado por
pinheiros de verde intenso
E sol muito
quente
A fazer tudo
dormitar
Nas tardes
plácidas
No tempo em que
eu era uma menina
Que não gostava
de chorar
Havia sonhos com
asas
Brincadeiras sem
horário
E palavras
escritas
Muito amigas
Para me aconchegarem
a solidão
Havia a casa dos
avós
E os avós
Agora há esta
saudade
Pequenina
De mãos dadas com
a memória
E os avós
Que estão aqui
comigo
Neste país frio
Deles
desconhecido
Sorriem-me
Hoje
É esse sorriso a
casa dos meus avós
Paula Sá
carvalho, Janeiro 2018
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