Hoje, quando olhei para mim, lembrei-me do
belíssimo poema de Cecília Meireles e voltei a sentir aquele desconforto
indefinido, aquela quietude involuntária, aquele tempo que estraga e não
repara.
Vamos então tirar juntos este
retrato...
RETRATO
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim
magro
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- em que espelho ficou
perdida
a minha face?
Cecília Meireles
(1901-1964)
Nenhum comentário:
Postar um comentário