quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Hoje, quando olhei para mim, lembrei-me do belíssimo poema de Cecília Meireles e voltei a sentir aquele desconforto indefinido, aquela quietude involuntária, aquele tempo que estraga e não repara.
Vamos então tirar juntos este retrato...
 
RETRATO

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- em que espelho ficou perdida
a minha face?


Cecília Meireles (1901-1964)

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