Este poema já tem uns "anitos" mas reflecte o mesmo que reflectia
quando o escrevi. Nos próximos dias vou fazer novamente 25 anos e decidi por
isso publicá-lo. Afinal todos temos a idade das nossas artroses existenciais e
ele há dias assim, com um pé no chão e outro a balançar, algures por aí, num
céu cheio de castelos no ar...
O ESPELHO
Aos meus vinte e cinco anos de idade
Desejo relembrar alguns traços de identidade
Cuja beleza de carácter de alma e de figura
Não desdenho comparar à formosura
Que neste mundo, mudo surdo e pobre
É tão difícil ser-se radioso e nobre
Quanto a rosa à vida tem direito
Num jardim de colheita a preceito
Procurei com meus olhos verde-mar
Toda a luz da vida harmonizar
Meus lábios aprenderam a sorrir
Minha alma a chegar e a partir
E de todas as paixões que eu vivi
Nenhuma mais forte me consome
Que este Amor que sempre senti
Pela palavra e pelo gesto que a envolve
Por mim tenho grande apreço
Qual é a esperança qual é ela
Que me sobra se me esqueço
Que sou eu e só eu que pensa nela
E se por vezes algum amado feri
Com minhas atitudes de pretensa frieza
Creia-me ele que foi muito o que sofri
Pois Amar é uma guerra muito intensa
Hoje estou só como sempre estive
Apenas me dói mais o coração
Por tudo o que tive e não tive
Por aquilo que aprendi e outros não
Se meu retrato incompleto é efémero
E não define meus ânimos e meus anseios
Hei-de procurar na redefinição do eterno
A ambiguidade dos meus próprios seios
Por que nasci mulher e fêmea receosa
De séculos e séculos de dúbia história
Eu me consideraria auto-poderosa
Não fosse esta vontade quase inglória
Que me prende à luta quotidiana
De minha sensibilidade fazer sobreviver
Seja qual o preço que daí emana
Seja qual o trono que possa perder
Paula Sá Carvalho, Outubro de
2015
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